1. “A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano” (Clarice Lispector)

Se eu fosse pensar o cenário das nossas ultimas conversas juntos aqui na coluna com certeza seria uma serie sobre como reconhecer-nos humanos. Está nas mãos do Eterno se esse será ou não o ultimo texto do que poderíamos chamar serie “Humanidades” e se iniciaremos uma deliciosa partida para outros temas. Jesus tem ministrado muito na minha vida através dessa palavra: Humanidade. Ele tem ministrado na minha vida através da vivência da minha humanidade. Confesso a vocês que não tem sido fácil lidar com tudo que há em mim e com toda a quebra de expectativas externas, mas, há a fé inefável de que Ele está me levando para um bom lugar. Lembro-me de há alguns anos o nosso fundador da Resgate profetizando para mim o quanto eu era um diamante bruto e o quanto eu iria ser lapidada e provada no fogo e o quanto essas marteladas de lapidação iriam doer, mas, no final, uma bela peça estaria sendo formada. E eu vejo isso acontecer hoje e vejo o quanto Deus tem algo me esperando lá na frente, sabe? (É engraçado quando a gente começa a profetizar na nossa própria vida, eu sei, mas isso deveria acontecer mais vezes, sabia? Porque tu é dEle, não esquece). E Jesus tem presenciado o Seu agir na minha trajetória também através de meios humanos. Através de amigos, de contas de missionários no instagram e no quanto os stories de cada um fala sobre permanência e sobre a perseverança deles enfrentando tudo aquilo que eu também estou passando, através de circunstâncias, de sentimentos e da terapia. Sim, sou missionária. Sim, prego a palavra. E, sim, faço terapia. Uma coisa não exclui a outra. Existem em nós questões espirituais das quais necessitamos da ajuda de um diretor espiritual: um missionário experiente que já está acostumado a direcionar, um padre, diácono e afins. E existem, obviamente, as nossas questões psicológicas que implicam nossos pensamentos, formas de agir, nossas convicções e construções mentais, muita coisa que está cristalizada em nós desde a nossa infância, dos contextos que crescemos; e que, muitas vezes, nos impregnam de inseguranças, medos, traumas que nos impedem de dar passos mais largos na vida que escolhemos viver e no meio disso tudo necessitamos da ajuda de um profissional da área que compreenda todas essas questões, processos e estruturações da nossa mente. Isso não é tirar de Deus o poder dEle de fazer todas as coisas na nossa vida, de nos curar e tudo isso, mas, o contrário, é saber que Ele vai usar de muitos meios para demonstrar o cuidado dEle na tua existência, porque nEle nos movemos, vivemos e somos (At 17, 28-30) e todo o universo fala de Deus.  O exercício do meu ministério como pregadora da palavra e do ministério pessoal que sou eu para Deus me despertou a necessidade de trabalhar em mim algumas dessas coisas que interferiam no meu “dar o melhor para Deus, pela missão e por mim”, como a insegurança, o medo da exposição, das criticas, das expectativas que construíram sobre mim, etc. Sim, se vocês notaram bem eu falei “ministério pessoal que sou eu para Deus”, porque nós somos ministérios vivos de um Deus vivo. Precisamos cuidar dessa casa, da preciosidade e do instrumento que nós somos para Deus. É interessante o quanto dizemos que somos morada do Eterno, que somos sacrários vivos e esquecemos tanto de cuidar desse sacrário.

Quando nós percebemos a bagunça que está habitando dentro desse ministério, a gente se incomoda, sabe? Porque o Espírito Santo é ordem, é ordenador. E quando vamos desvendar de onde veio toda essa desordem, percebemos que não conseguimos organizar a bagunça porque estamos presos em muitos lugares, em muitos “algos”, estamos reféns, escravizados por muitas coisas. Então, começa a surgir na nossa alma o desejo de liberdade. Em algum momento até podemos confundir essa liberdade com a liberdade de fazer qualquer coisa, de não ter limites, de não ter dono, de não ter regras. Mas, a liberdade que falo aqui é uma liberdade que vai além, é uma liberdade de reconhecer que ainda não. Como assim? É porque nós quando assumimos um lugar de cristão ou de qualquer outra coisa na vida, nós criamos um ideário voltado à perfeição e muitas vezes as pessoas criam e nós mesmos criamos imagens de nós, baseada em fragmentos, que excede quem somos, e nós nos sentimos na obrigação de a todo custo corresponder aquela imagem e nos abstemos, na maioria dessas vezes, de quem verdadeiramente somos, pelo medo de não sermos mais amados com a mesma intensidade, medo de sermos deixados de lado e retirarem de nós tudo aquilo que nos confiaram. Ficamos presos em sempre agradar e sempre corresponder às expectativas. As pessoas criam e nós mesmos também criamos imagens negativas ou positivas de nós mesmos, mas, não podemos – de forma alguma – ficar presos a nenhuma dessas representações. Vou contar a vocês minha experiência para que fique mais palpável ao entendimento.  Por muito tempo as pessoas se acostumaram com uma imagem minha de meiga, fofa, “perfeitinha” e elas, em algum grau, esperavam de mim isso, por muito tempo o meu ego foi acariciado por essas imagens, até ficar difícil suportar, principalmente quando comecei a sair da adolescência para a idade adulta (jovem-adulta), quando se tornou sacrificante e angustiante mostrar-me em uma imagem tão livre de maculas, pois, as fases de transição nos reservam a mostra de nossa fragilidade, é quando estamos nos deparando com inúmeras situações novas e ainda estamos aprendendo a lidar com tudo. Precisei então tomar as rédeas do meu processo e dizer para muitas pessoas e para mim mesma que AINDA NÃO. Ainda não sou santa (e como estou distante…), que ainda não conclui meu processo, que ainda não sou tudo aquilo que é projeto de Deus na minha história. Que ainda estou em caminhada. Que ainda estou em construção. Que ainda estou aprendendo. Assumi as rédeas de assumir para o mundo as minhas verdades, que Deus ainda está trabalhando em mim. Que muitas vezes ainda fraquejo no ardor da oração e da leitura da palavra. Que eu não preciso ser meiga o tempo inteiro. Que existe uma versão inteira dessa menina aqui que inclui positividades e negatividades, mas, nunca exclusivamente uma ou exclusivamente outra. Mas também não permita que te façam acreditar que tu é inútil, que tu se reduz aos teus defeitos, que tu não é tão bom, muito menos capaz. Liberdade é a graça de ser em Deus longe dessas cadeias, de viver as suas nuances, as suas faces diante de Deus sem precisar ser pela obrigação de manter alguém ao seu lado, sem medo de perder algo. Porque tudo o que Deus te der para ser teu, para fazeres, para ser responsável, para ser ministro dEle, vai independer de tudo isso, vai independer se te “veneram” ou se não vão com a tua cara, se gostam ou se não gostam do teu jeito de ser, se concordam ou discordam das tuas atitudes. Os projetos de Deus independem disso, por isso, não deixe de servir. O serviço a Deus não depende do que pensam a teu respeito, “veja você que, no final das contas é entre Você e Deus e não entre você e os homens” (Madre Teresa de Calcutá). Por isso, assumir nossa humanidade em Deus, sem esconder nada do que existe dentro de nós e que está em processo, é romper com cadeias. E isso, é a maior liberdade que o homem anseia em seu interior. A liberdade de só ser. Se alguma pessoa pode sair da tua história porque você é quem você é, saiba que ela não precisa ficar. Deus encontrará os caminhos certos para ela. Também não permita que permaneçam pessoas que te impedem de ser quem você é de verdade, que te fazem se sentir culpado por você ser quem é. Porque Jesus não é assim. Ele vai te ajudar a alcançar a melhor versão de ti, mas, sem jamais te fazer sentir pesado e angustiado por ser você. A lição que fica hoje é que o mínimo que pudermos criar de imagens das pessoas que habitam ao nosso redor seria algo muito muito muito massa, porque podemos estar as escravizando sem perceber, achando que estamos cuidando, protegendo, contribuindo. Que o Senhor sempre nos dê muita sabedoria e discernimento para cultivar a nós mesmos e as nossas relações.

Muitas vezes, as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas. Perdoe-as assim mesmo.

Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta, interesseiro. Seja gentil assim mesmo.

Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e inimigos verdadeiros. Vença assim mesmo.

Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo. Seja honesto e franco assim mesmo.

Se você tem paz e é feliz, as pessoas podem sentir inveja, Seja feliz assim mesmo.

O bem que você faz hoje pode ser esquecido amanhã. Faça o bem assim mesmo.

Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante. Dê o melhor de você assim mesmo.

Veja que, no final das contas, é entre você e Deus e não entre você e os homens.

(Madre Teresa de Calcutá)

Paz e bem, Resgatianos. Beijos da Bru :*

Bruna Santana
Missionária Comunidade Resgate